top of page

Sexo por dinheiro: liberdade sexual ou abuso capitalista?

  • Foto do escritor: Vitória Camargo
    Vitória Camargo
  • 13 de nov. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 14 de nov. de 2020

Há anos a nossa sociedade discute o que seria de fato a prostituição. Mesmo sendo considerada a profissão mais antiga do mundo, tendo registros de seu exercício até mesmo na Bíblia, ela ainda traz à tona diferentes opiniões e argumentos. O uso do corpo feminino para o ganho financeiro significa empoderamento ou exploração capitalista?


Há dois anos fiz meu TCC em cima desse tema. Produzi um documentário que discute a relação do sexo com o lucro. Tive contato com prostitutas e estudiosos sobre o assunto. Foi muito esclarecedor vivenciar realidades que nunca foram muito próximas da minha. Sair da nossa bolha é EXTREMAMENTE necessário. Não podemos tirar conclusões sobre qualquer tema sem que tenhamos vivido de perto.


Não posso falar pelas profissionais do sexo, então precisei falar com elas. Todos conhecem a famosa história da Bruna Surfistinha, que tinha uma vida boa e resolveu fugir de casa e se prostituir por vontade própria. Liberdade, certo? Pois saiba que lá na rua essa realidade não representa nem 1% das profissionais.




Na primeira casa de prostituição que fui, percebi logo a realidade. Paredes descascadas, uma pintura verde desbotada. Uma jukebox empoeirada no canto da sala. Mesas de bar de metal enferrujado. A dona do local, dona Adelina, muito velhinha, deitada numa cama com sua blusa do avesso. Ela estava recebendo cuidados de uma de suas “meninas”. Depois de entrevistar a cafetina, que afirma não querer sair dessa vida, convencemos Juliana a falar conosco. Ele pediu para ter seu rosto borrado. Tem medo de ser reconhecida.


Assim como a maioria das minhas entrevistadas Juliana começou muito jovem nesse ramo. Por necessidade financeira ela foi ficando. Aguentando homens bêbados em cima dela, como ela mesma diz em sua entrevista. Mesmo tendo pensado em sair várias vezes, ela foi simplesmente ficando. Afirma ainda que é muito difícil quem consiga sair dessa profissão, que dá muito dinheiro.


Minha entrevistada mais jovem tinha 22 anos e já era mãe. Entrou na prostituição pra dar uma vida digna à filha. Com uma blusa felpuda, que deixa a barriga à mostra e short jeans exibindo as belas tatuagens da perna, Angel concorda em ser filmada. Quando soube que seria em vídeo pediu um tempo para passar um bonito batom vermelho. Ela acende um cigarro de palha e olha ao redor. Essa casa de prostituição na qual Angel trabalha é mais arrumada. Uma grande piscina, um bar ajeitado e uma jukebox grande. Angel diz que quer sair ainda dessa vida. Ela ri quando diz que sexo por dinheiro não é fácil, como as pessoas dizem. Uma cena chocante nos tocou ali: ela nos relata um estupro que sofreu e dá risada dizendo “foi horrível, não quer mais fazer isso”. Ela ri. Nós ficamos atônitas.


Em outro cenário, desta vez com paredes roxas ao fundo de um bar. Uma música alta toca. Uma moça de unhas vermelhas e cigarro branco nas mãos nos diz que não escolheu ser prostituta. Eliane afirma que foi a falta do dinheiro que a levou ali. Ela diz que todos que julgam sua escolha não estão dispostos a ajudá-la com comida ou dinheiro. Eliane tem outra profissão, prostituição é sua segunda vida secreta, sobre a qual nem a família sabe.


Quando colocamos esses cenários em análise percebemos que não foi muito uma escolha dessas mulheres. A necessidade as levou para o caminho da prostituição. A liberdade sexual da mulher nos dá direito, sim, de transar quando e com quem quisermos. Mas a partir do momento que isso é um emprego, sem o qual não podemos sobreviver, é uma troca lucrativa que representa a exploração capitalista.


É importante ressaltar que as prostitutas têm um código de ética como qualquer outro profissional. Elas não podem beijar na boca, orgasmo é considerado acidente de trabalho e não se transa por prazer com nenhum cliente. Afinal, não se mistura prazer com serviço. Olhando por essa perspectiva fica mais claro ainda que a prostituição é simplesmente um trabalho.


Mesmo sendo uma profissão, as prostitutas ainda enfrentam as dificuldades da informalização do serviço. Elas não possuem direitos, nem respaldo na lei. A prostituta ainda pode ser presa pelo delito de vadiagem. As cafetinas podem ser presas por exploração. Então, sejamos sinceros, que tipo de liberdade é essa? E que tipo de trabalho não tem segurança trabalhista? Se elas forem agredidas, será que a polícia leva a sério? Se forem estupradas, vai ser considerado um crime? Bom, para mim, a prostituição continua sendo mais um trabalho capitalista criado por necessidade de posses e sobrevivência. Mas não é um trabalho como qualquer outro. Falta segurança, faltam leis e falta respaldo legal.


O que você acha? Liberdade ou exploração?


Ouça aqui o episódio do podcast correspondente a este texto:


Comments


© 2023 por O Artefato. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook B&W
  • Twitter B&W
  • Branca Ícone Instagram
bottom of page